sábado, 12 de fevereiro de 2011

Ele vai te olhar com os olhos de um husky siberiano, prestes a pular sob a caça.  Profundo, certeiro, bem no meio do alvo - que na verdade, é você. Como se a visse com algum raio-x, despida. Depois de hipnotizar com seu par de bolitas (que nem ao menos precisam ser azuis, verdes ou cor de mel, mas sim, penetrantes) irá  rosnar um sorrir com os dentes à mostra, largo; como se você fosse uma conhecida de tempos que para ele, é um prazer rever. Familiarizado com a situação, e com mais uma presa em mais uma noite que com toda a certeza solitária não seria.
A beleza não é uma característica, mas sim, agente secundário nessa equação que a deixa no final sem resposta exata. Este tipo costuma ser dotado mesmo é de um charme que foge às suas explicações. O que é que ele tem, pergunta a amiga desconfiada. Borogodó, um tchan a mais, qualquer coisa que eu não tinha visto por aí ainda, mas que na rede caí: não como um patinho, mas como sereia que conhece o perigo dos mares e ainda assim, por aí faz questão de mais fundo mergulhar.
Ele tenta você com sua abordagem direta, confiante. Se sente o ponto único do universo com seu umbigo malhado, sua auto-estima enorme e eu ego quase sempre massageado. Por mais que você sinta no seu perfume inebriante o tamanho da cilada, em conjunto aos tão bons e grandiosos diferenciais e tente ecapar isso só o fará ir ainda mais à sua caça. Caça sim, porque para o Don Juan tudo é um grande desafio e o que conta mesmo é a dificuldade: quanto maior, mais estimulante. Você percebe que ele não é apenas um rostinho bonito e que tem até mesmo um bom gosto admirável quando além de ser irresistível, ele amostra um humor bom, possível e adequado, sem piadinha fúteis e mal colocadas, ou trocadilhos, quase sempre infames. Faz de seu ouvido um porto onde suas palavras chegam sussurradas, e mesmo que ele esteja comentando como é rídiculo o jeito de tragar o cigarro do moço à frente, para você será o mesmo que Mick Jagger cantando. Quem sabe, Jim Morisson, Al Pacino; fica a seu critério a escolha do que a fará ter vontade de dançar, mais tarde.
E então que você cai de amores, e mesmo que hesite, ele a fisgará. Por uma noite, um momento, uma semana, dois anos. Sem nunca firmar um compromisso, porque seu alarme é ativado a qualquer 'benzinho' ou comida que você faça de surpresa, e os pratos na mesa, vestida de avental. Ligações inesperadas, demonstrações de afeto seguidas de brigas sem motivos infundados baixam consideravelmente o tesão que o moço sentirá em ter a sua companhia, o seu corpinho, inteligência e qualquer aspecto que envolva você na vida dele.
O mesmo cara que a fez sentir a mulher mais completa e maravilhosa dentre todas as galáxias - que a gente nem sabe quantas são e se existem outras - será o que depois de algum tempo, se tornará cada vez mais frio. Ou sumirá. Que a deixará louca e sem respostas, sofrendo com um coração ingênuo que acreditou em toda a verdade perfeita que parecia possível, à frente. A fuga, iniciou seu processo e planejamento já nos primeiros sinais de apego e sentimentalismo da sua parte. Você é que não viu, cega pelas flechas que cupido alçou em sua direção.
Ele a seduziu, mas como é mestre em se desprender do que quer que seja, tamanha sua experiência em conquistar e logo partir para a próxima ventura, você não terá nem ao menos a chance de fazer com que o mesmo husky siberiano que a apreendeu com o olhar no seu colo se aquiete. Sua facilidade em preencher páginas com telefones de iscas já antigas não é a mesma de estabelecer um compromisso estável, duradouro. O que conta para ele é a ação, a novidade, o desconhecido. Quando então você passa a fazer parte de uma rotina em que ele a inseriu, mas se desgastou, com a maior crueldade do mundo que você até então não sabia existir, ele a tirará da sua vida. Como uma peça de xadrez, descartada. Feito uma página, virada. Você ficou no ontem, que foi o passado. E esse homem quer é o futuro, quer saber ainda dos tantos troféus que temporariamente colocará em sua estante - para logo depois, também dá-los à doação.
Algum dia, você lembrará desse mesmo homem com algum carinho incompleto do que poderia ter sido, mas não foi. Verá que tudo não passou de um sonho juvenil, de uma pirraça sua por um coração que nem ao menos amadurecido tinha. Poderá perceber ainda que a sua vida apenas progrediu depois deste enorme aprendizado, provação do destino que a deixou perceber o quão forte e guerreiro é esse sentimento, que mesmo devastado, se reacendeu. Quanto ao sedutor? Algum dia, por travessura do acaso, a verá feliz nos braços de alguém que conseguiu a fazer feliz, completa. Mulher. Sentirá uma inveja ressentida de toda essa alegria cúmplice que a vida a devolveu. E se perguntará o que fez de errado, o que tem o rapaz. Nada demais, tudo para você. Ele com sua agenda cheia de contatos de one night stand e booty calls que não preenchem o vazio de uma noite fria, sem jantar na mesa e um 'benzinho' para ouvir. Você, completa com um amor recíproco, bom. Justo. Dizem mesmo que a gente faz nossos caminhos, e que eles provém inteiramente de nossas escolhas. Hoje eu acredito.

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